sábado, 25 de julho de 2015

"Kid A"

25/07/2015

terça-feira, 21 de julho de 2015

domingo, 19 de julho de 2015

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Disfonia

Não sou muito bom
com as palavras.
Elas, no entanto,
são piores ainda comigo.

Aonde buscar um abrigo?
Em liquidas glossolalias .
folhas grisalhas,
escombro amigo?

Deixo que o tempo me valha
apoiado em pá que lavra.
Retira a terra que cobre
cacofonias banhadas em ouro.

Que formam sentidos ocultos,
só as tripas, sem coração.
Desencontradas gramáticas
rugindo a fala do leão.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A seiva dos cabos de fibra ótica

"Eis que velhas portas reabrem, tornando-se novas. Como as dos loucos que escutam a estática nos rádios, e acham ali mais sabedoria do que qualquer ser humano possa ter comunicado sob qualquer forma. Das que escondem mulheres hackers bruxas queimando em fogueiras de código binário. Já não estou aqui. Rizomas de fungos e cabos espalham, trazendo e levando, o planeta-informação, que é tudo. Eis que novas portas se abrem, e tornam-se tudo, porque o tempo é uma coisa só. E conexões precisam ser feitas. Dos caldeirões marcados com olhos-símbolos egípcios que fervem os zeros e os uns, dos processos que inventam e reinventam softwares criadores da Grande Arte, do Hardware-Pedra Filosofal. Entidades cibernéticas evocadas ao centro de uma sala rodeada por computadores, símbolos alquímicos, velas, cabos USB. Antenas trazendo sons longínquos, Roda do Darma wireless espalhando conhecimento cyberespiritual para as formas de consciência materiais ou não, do plano sutil, analógicas ou digitais. Atabaques sampleados e cânticos entoados por vocoders embalam rituais de conexões intermodais de nossos umbigos, via cabos submarinos, uns com os outros, e todos com o centro da Terra, com as florestas, os peixes, tudo mais. E a transmissão-recepção intergaláctica propõe trocas de sabedorias entre seres quânticos, diferentes dimensões mescladas compartilhadas por interfaces em forma de monitores em nossas câmeras-olhos. Das camadas mais distantes, de volta ao átrio, ao centro pulsante de electromagnetismo. Sinto alívio, me deito, e meus olhos agora são... prateados."

domingo, 14 de setembro de 2014

E

Gotas de cima, de baixo, de lado, de outro

rebentando

Gotas
cada uma
e seus respingos
no chão
folhas

proliferação       comunicação subterrânea

Folhas
cada uma
e seus respingos
no chão
almas

renascendo

Almas de cima, de baixo, de lado, de outro


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Elucubrações de um não-tão-bêbado

Porque eu não estava ali. Eu estava em outro lugar. Sentado naquele banco, rodeado daquelas pessoas, mas não era lá o lugar em que eu me encontrava. Porque eu sempre estou em outro lugar. E é mesmo até fora de mim. Buscando alguma fuga em embriaguez qualquer, mas a fuga já está em mim. Ando pelas calçadas em ambiente onírico. Minhas memórias se confundem com os sonhos, e na verdade ficam elas por elas, as coisas vividas e sonhadas, todas se misturam, e de vez em quando eu me perco de qual é qual. Eu sonho com ela, até hoje. Ela mesmo nem deve sonhar comigo, nem sei se lembra de mim. Eu lembro dela, todos os dias. Porque foi com ela que eu aprendi a sair de mim, e, paradoxalmente, a ser mais quem sou. Porque foi ela quem me mostrou que eu era alguém, talvez tenha sido a primeira pessoa a me dar amor, de uma forma que nunca sonhei ter. Mas ela já passou, está marcada, nunca saiu, talvez nunca saia de mim, mas passou. Sonhei com outras no caminho, vivi coisas com essas algumas vezes também. Mas, no fim, o que restou fui eu. E eu não estava ali. Eu estava em outro lugar. Porque parece que no fim sou sempre eu. É o que resta. Mas eu já fugi de mim, fui andar e me deixei de canto, fiquei do outro lado da rua me olhando, acenei uma despedida. Tanta coisa interessante acontece, mas o que sobra? Todo mundo sempre parece ter alguém. E pra mim? Em outros tempos, não havia nada que se oferecesse a mim, passou a ter, e eu sempre dou um jeito de driblar, de esquecer. Por fim, esqueço de mim. E tudo se forma em fragmentos, tudo se torna pequenos pedaços de desgosto ou alegria, mínimas sensações de deleite ou de feia forma bizarra, rosto macabro sorrindo tristeza em um espelho. Como andar em uma rua, e visualizar o próximo ponto a se parar, naquela esquina, de onde vem um cheiro bom. E quando se chega lá, o aroma já se foi, você já se foi, as luzes dos postes do caminho percorrido se apagaram, e as da frente nunca se acenderam. O Absurdo. A falta total de sentido das coisas, e, pior, a necessidade incessante da busca desse sentido. Mas não há. E o que resta são desejos falhos, planos fugazes que dão e passam, passos errantes, esquecimento, visualização de potencialidades desperdiçadas. E pra onde se vai? Parecendo ver todas as pessoas fazendo sentido, trilhando caminhos, e você sem uma lanterna, sem qualquer bússola. Somos da mesma espécie, certo? Então como posso andar ao lado dos meus irmãos e irmãs sem que ninguém compreenda o mínimo que passa em minha cabeça. E mesmo quando há empatia, não há solução. Sentar num sofá, e tanger as cordas de um violão, e entrar em transe. Tudo aquilo, todo aquele nonsense existencial vai continuar, está no passado e está no futuro. No entanto há aquele momento de entrega, de suspensão do tempo e do espaço, onde somente o som, mesmo que seja de poucas notas, um acorde, um ritmo simples, parece hipnotizar e te levar para fora daquele lugar, o qual você não faz a mínima ideia de onde é. Uma garrafa de vinho parece uma solução momentânea. Mas, no dia seguinte, tudo vai voltar. Todo o desespero e a cegueira, toda a solidão. E não serão mil garrafas que poderão calar todas essas coisas. Porque nunca é o bastante, nada nunca é o bastante. E o que dói é justamente ter que procurar o bastante, e não se dar por satisfeito com o que já está dado, para que o que já é seja o que basta. E também nunca saber o que é! Talvez se eu tivesse alguém ao meu lado, talvez se eu tivesse algum caminho claro traçado em minha vida. E essa obrigação de saber o que se quer, em meio a tanto absurdo. Eu não pensaria, se pudesse, eu me calaria, aceitaria tudo que me foi imposto de fora, me negaria, porque seria mais fácil. Sim, menos verdadeiro, menos vida, porém mais fácil. Talvez eu só precise de uma boa noite de sono. Talvez eu não devesse esperar um elixir, uma panaceia, talvez eu não devesse me sentir como alguém que, ao contrário dos satisfeitos, estivesse mais preparado para quando o apocalipse rompesse. E toda aquela sensação de desespero de uma súbita dor de barriga na madrugada, que te faz acordar suando frio e pensar que seu dia seguinte está acabado, que será todo dor, talvez isso não precise se repetir sem que realmente haja um desconforto intestinal. A sensação de um destino marcado, de uma existência crucificada, um fatalismo sem fundamento algum, meros queixumes e devaneios de fantasmas do passado que seriam facilmente tratados por especialistas, pagos em algumas vezes sem juros. Não! É preciso se desapegar profundamente do ego para aceitar que essas coisas todas estão, não são. Porque estar é tão mais raso, tão menos verdadeiro do que ser. Então isso pode me causar algum conforto, pensar que tudo isso é momentâneo, que eu não deveria me apegar a nenhuma dessas dores, que minhas células mudarão, e eu serei outro em uma questão de horas, dias, anos. Mas o presente é quem sufoca, pois é ele quem está aqui, e não conheço o futuro tão bem assim, o passado é um amigo distante do qual guardo alguns rancores e prefiro que a máxima relação que eu tenha com ele é mandar uma carta, flores ou vinho uma vez por ano. Se eu pudesse me prender no momento de um sorriso... Mas não posso. Tenho que olhar para as coisas como elas são. E não faço ideia de como elas são. E mergulho nesse paradoxo, e ele é tudo o que tenho, é o que foi, o que me resta, e talvez até o que será. Digo talvez porque o futuro é sempre uma possibilidade. Por mais sombrias que sejam as nuvens que encobrem minha visão das estrelas do que virá, não posso afirmar que o que virá é algo de muito ruim. Porque as coisas mudam. Mudaram muito, continuam a mudar. Mesmo com essa pesada presença da melancolia, reinando sobre uma rebelde e mal organizada esperança que brota, provavelmente de uma necessidade muito básica de continuar, o próprio instinto de manter-se vivo. Estou confuso, a escrever bobagens, mas creio que há algum sentido nisso. E penso em alguém lendo o que escrevi, e me julgando tolo, imaturo. Que seja. Porque me cansei de ter que explicar que essa coisa toda vem de um processo muito complexo, que nada disso é leviano, mera tristeza reminiscente de adolescências. Não, isso tudo é algo muito real, pulsante e, sim, de alguma maneira, é uma sabedoria. Porque a dor é, sim, uma grande escola. Porque é da confusão, dessa aparente desordem desses sentimentos, sensações, lembranças cruzadas, daí extrairei alguma raiz quadrada, aí encontrarei qualquer sentido. E se não encontrar, ganharei algum tipo de força, algo que me manterá vivo, pois é a energia vital quem segue, quem pede ajuda para continuar na caminhada, quem procura uma luz para se misturar com o mundo e seguir a sequência das vidas.