domingo, 2 de janeiro de 2011

Uma Eternidade

Vincent van Gogh - "No limiar da eternidade" – 1890 - óleo sobre tela 80cm X 64cm, Museu Kröller-Müller - Holanda


"Um cinema. Um filme. Apático, você entra. Como não há porteiro, nem lanterninha, você toma assento na platéia, onde três outras pessoas, uma bem longe da outra, também aguardam. As luzes estão acesas e não há musiquinha de fundo. Você espera, ansioso. As outras três pessoas olham estáticas, robotizadas, para a tela branca. Passa-se meia hora, uma hora e o filme não começa. Já farto, você sai do cinema e é acuado na calçada por dois cães que começam a ganir, salivando e arreganhando os dentes afiados. Assustado, você entra de novo na sala do cinema e senta-se, resignado, numa poltrona. E volta a olhar para a tela nua. Lá fora, os dois cães continuam em guarda."

("A eternidade", de Furio Lonza, publicado na revista "Chiclete com Banana" n° 18, de abril de 1989)