quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Derretendo

Meus dedos estão derretendo. Enquanto minha pele, ossos, músculos e sangue escorrem derretidos por meu braço, eu penso em alguma coisa que poderia evitar o derretimento do meu corpo físico, que já ocorria. Pelo menos meu cérebro ainda não começou a derreter, mas é só uma questão de tempo. Será que, quando meu cérebro começar a derreter, eu perderei as funções vitais mas continuarei consciente por algum tempo? Bom, não é hora de me preocupar com isso, pois meus braços estão quase que completamente transformados em um líquido viscoso. Minhas pernas também estão em estado crítico. O que me espanta é que não sinto dor ... e à medida que vou me desfazendo do meu corpo, ou ele vai se livrando de mim, sinto uma clareza de pensamentos que nunca senti antes. Quase posso alcançar o céu. Sinto que perder meu cérebro não fará muita diferença nesse momento, pois já virei luz. E o que sobrou do meu corpo escorre pelo ralo mais próximo. E eu já não sou mais quem eu pensava ser, tampouco o que via no reflexo do espelho. Então eu sou um par de asas. Eu vou sair daqui agora, eu vou voar, atingir o espaço, todo o espaço. Já não tenho mais forma definida, e já não sou mais preso pelo tempo. Eu sou o espaço e o espaço é o que sou. Onipresente e atemporal ...

(texto escrito em 2006)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Você

Andar descalço ao seu lado, e comparar o tamanho dos pés (e rir pelo seu ser bem menor). Inocência quase infantil, viver lúdico. Fazer cócegas na sua barriga, até você me implorar para parar, e depois que eu paro, você vem e desconta em mim, até me jogar no chão. O sol brilhando e iluminando o lindo gramado, no qual corremos até cansar, nos deitamos e nos amamos. E no meio dos sussurros ofegantes do amor, sorrir ao te ver completamente entregue, indefesa, em uma grande volúpia, da qual eu faço parte, e nos tornamos um só ser. Fazer carinho em seus cabelos, com você em meu colo, e comentar sobre como gostamos daquele velho jazz, sobre como aquilo é uma beleza incomensurável. No meio de uma longa conversa, me dar conta de como seu sorriso é lindo, e ver seus olhos brilharem de timidez e deleite com o meu comentário. Você ficando brava e dando pequenos socos em meu braço quando eu olho uma moça bonita passar na rua, mas depois me desculpando com um beijo que me faz esquecer qualquer rabo de saia. Eu segurando seu corpo na água do mar, pra você boiar sem preocupação, e esquecer as agruras da vida. O velho clichê: ficarmos deitados contando as estrelas, ou as nuvens, se for dia. Tomar um porre juntos, eu tocando meu violão e nós cantando, depois rindo, depois fazendo amor e dormindo imediatamente após, com você aninhada em meu peito. E o mundo se torna isso: você e eu, e todos esses pequenos grandes prazeres.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

É óbvio

Entre soluços ... uma solução ?
Entre esboços ... uma resolução ?

Se você quiser, pode me dar
seu futuro de presente.
E eu passo a limpo
todo meu passado,
e preencho
o furo do meu futuro.

Quero somente o óbvio que vem
na medida do bom ócio.