sábado, 13 de abril de 2013

Nessa cidade

Hoje, todos os pombos nos fios elétricos tentaram defecar em cima de mim. Os cachorros latiram, tentaram me morder, um deles conseguiu. Os sinais vermelhos, paisagem cinza. Qualquer policial que passava me abordava, revistava, gritava comigo, me batia. Os mendigos reclamavam, emplorando ajuda, tentavam agarrar minha canela, me jogavam cachaça. As luzes das viaturas me cegavam. Cheiro de esgoto, muito forte, e a fumaça irritando os olhos e nariz. As pessoas passando apressadas, esbarrando em meu ombro. Ou algumas lentas demais, atrapalhando minha passagem. E por quê eu andava rapidamente? As sombras dos prédios estavam para outro lado, e não me protegiam do sol. Eu pisava nas merdas dos cães. A fila do banco grande, e a paciência do caixa, pequena. O restaurante com todas as mesas ocupadas. E tudo gritava sons irritantes: os pastores nas igrejas, os porta-malas com música alta, motos aceleradas, aviões sobrevoando. Minha mente tentava manter a calma que o corpo já perdia, que escorria junto ao meu suor. Tanta andança, tanta luz, asfalto quente, tantos passos, pressas, ternos. Vendedores ambulantes, chocolate, balas, carteiras, isqueiros, borrachas de panelas de pressão. Um forte odor ao passar por uma peixaria, outro quando passa o caminhão de lixo. Sacolas de compras. Seguranças de braços cruzados e óculos escuros. Pessoas protegidas no ar-condicionado dos carros, apartamentos, lojas de conveniência, alguns ônibus. Tropecei nos buracos da calçada, esbarrei nos muros, fiquei preso nas grades. Talvez eu esteja correndo disso tudo, e também correndo ao lado disso tudo, e dentro, e tentando olhar de fora. Finalmente, comprei uma garrafa de água, e descansei algum tempo sob a sombra de uma bela e frondosa árvore. Necessidade.