sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Shhh . . .

O silêncio, mais uma vez, grita. Impõe sua calada voz sobre a noite. Todos os bicos se abrem, alamedas se lotam, vazios se enchem, sem que haja algum som. Qualquer sim para o som.
Em elaborado movimento, sem incomodar qualquer vizinhança, sobe-se mais um muro ou escada, que tenta alcançar o silêncio do espaço sideral... em vão. Entre os vazios desse infinito imaginar surgem, sobressalentes, pautas vazias de notas grifadas, compassos sem tempos. Sem Tempo.
Os sons, que os passos das horas e segundos fazem ao tocar o chão, são quimeras de cobre ou chumbo que, alquímicas, tentam se transmutar na própria não-substância da qual é feito o Nada.
E quase nada ou pouco é feito para cessar a necessidade dos próprios caminhos de vento de serem preenchidos e cortados por novos ares.

Pois... que se faça o gri ... to ... do ... si ... lên ... cio.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Não: não digas nada!

Um dos meus poemas favoritos da vasta obra do Fernando Pessoa é esse. Parece muito simples, mas a forma é muito rebuscada, e o conteúdo vai à essência. Pra que dizer? Deixe que o mestre diga ...

    Não: não digas nada!
    Supor o que dirá
    A tua boca velada
    É ouvi-lo já

    É ouvi-lo melhor
    Do que o dirias.
    O que és não vem à flor
    Das frases e dos dias.

    És melhor do que tu.
    Não digas nada: sê!
    Graça do corpo nu
    Que invisível se vê.

    Fernando Pessoa, 5/6-2-1931
E a grande banda brasileira Secos & Molhados ainda fez uma versão musical para o poema do sábio esquizofrênico português. Muito bonita, por sinal. Ouça aqui.