sexta-feira, 18 de julho de 2014

Dos solitários

Os solitários não são, necessariamente, infelizes. Muitas vezes, inclusive, ocorre justamente o contrário. Têm um vasto mundo à sua disposição. Se inundam com riquezas de suas próprias hortas, e com as colheitas feitas por outras almas, disponíveis em forma de livros, discos, pinturas, ideias. Têm, frequentemente, alguma habilidade como o domínio de um instrumento musical, ou de técnicas artísticas das mais variadas, para que possam, mais do que passar o tempo, dar vazão a pensamentos e sentimentos, entrar em estado meditativo, disciplinar corpo e mente. Não deixam, claro, de se relacionar com pessoas, mas somente na medida em que o universo delas não entre em conflito com o seu a ponto de arriscar anulá-lo. Gostam bastante, inclusive, de conversar, mas preferem papos a dois, onde podem explorar o universo de seu interlocutor, com a clareza e a sinceridade dificilmente obtidas em um encontro social a três ou mais. Podem apreciar, em maior ou menor grau, o contato contemplativo com a natureza - praias, florestas, mirantes - onde sentem alívio, êxtase, e maior abertura mental/espiritual para expandir a capacidade de ver as coisas como elas são. Suas ideias e criações inundam o mundo, pegam e arrebatam os espíritos mais sensíveis, alteram percepções, abrem janelas. Portanto, caso veja uma pessoa sozinha em um parque, possivelmente com um caderno ou livro em mãos, com o olhar perdido, aparentemente apático e desocupado, não se engane: pense que esse indivíduo pode ser um desses seres, a desconstruir e reinventar todo um universo.  

domingo, 6 de julho de 2014

Noite em vermelho

Creio que eu me perderia. Aliás, já me perdi. Então... adeus! Espere, voltei. Recomeçar... do começo.. 1, 2 e 3 também... Aonde estou agora? Para que lugares minha mente escapou? Sei que vi uma linda luz vermelha moldando suavemente o ambiente, jogando seus brilhos através da linda luminária de vidro, para cima, para baixo, e para dentro. Sei que cavalguei meus dedos sobre as cordas, sentindo o honesto som do pinho, ressoando, ecoando em minha mente, e um segundo nome para a Liberdade, eu inventei, eu vislumbrei, mesmo que por alguns instantes, ali. Remédio para a alma. Eu pedi Força, pedi Clareza, pedi Sabedoria para distinguir os meus caminhos, pedi Iluminação aos meus irmãos e irmãs. Pedi paz, pedi amor, pedi discernimento, pedi mais. Mas também agradeci, pois é importante agradecer. Piso firme em meu chão, com minha mente devidamente alojada no infinito do espaço, e é por isso que agradeço. Agradeço ao alimento que posso comer, a casa em que posso descansar, procurar abrigo, me banhar, me aninhar. Abençoei - e com que força - as iluminadas pessoas que encontraram com os deuses, dançaram ao redor das galáxias, voltaram e traduziram em MÚSICA aquilo que por lá sentiram, viram, viveram. Repousei minha cabeça sobre um macio e confortável travesseiro feito de nuvens, das mais tenras, do algodão mais nobre, coberto pelo tecido mais elaborado, feito com todo o esmero, com todo o cuidado, com toda sabedoria. Assisti atônito à beleza do dançar de minhas mãos, devidamente iluminadas pela rúbea clareza que emanava do lustre. Quanta harmonia, quanta sabedoria, havia ali! No entrelaçar e desentrelaçar de meus dedos, em sua dança, vi todo o universo. As junções e as separações, os vazios e os cheios, tudo, ali, apenas vendo minhas mãos dançarem. Quantas ideias tive, quanta vontade de fazer coisas, de conhecer, de explorar, de respirar os diversos aromas que esse vasto mundo oferece tão generosamente. Não esqueci, claro, da dor. Sim, ela está aí, e tem seu lugar. E procurei - e pedi - sabedoria, justamente para não ignorá-la, mas para saber que ela tem seu lugar, e não deixar que ela invada outros lugares, que não tem nada que ver com ela, aonde ela viraria apenas uma parasita, se alimentando em mesa que não deve. Pensei em todas as pessoas que amo, e o quanto eu tenho que melhorar meu amor, torná-lo mais sábio, saber quando ir e quando voltar, quando falar e quando silenciar. Poderia dizer muito mais, mas acho melhor ter um pouco desse agridoce sabor de deixar o dito pelo não-dito, essa luz escapando da fresta, que dá vontade de olhar pra ver o que tem dentro, mas é gostoso demais saborear o mistério. Sim, o Mistério. Não se engane, ele está lá. Naquele devaneio entre uma colherada e outra, naquele sonho do qual você não se lembra muito bem ao acordar, naquela súbita sensação de ter decifrado um intrincado código do universo durante uma caminhada pela cidade. E, para deixar assim, com sabor de quero-mais, me despeço, sempre com uma canção no coração. PAZ.