domingo, 30 de dezembro de 2012

A grama

Engraçado como as impressões que me causa essa grama toda alta são tão diferentes, e até contraditórias. O fato dela estar como está remete a uma sensação de abandono, de um não se preocupar, de um desleixo. Essas coisas levam a pensar que o responsável pelo manejo do jardim também está possivelmente abandonado, desleixado, sem ninguém para se preocupar com ele. Mas vai alta, a grama. De um verde intenso, que murcha ligeiramente com o sol ardente, mas se levanta, soberana, à chuva que cai nesses dias. É uma pujança de vida, aparecem tantas espécies de insetos e pequenas plantas, que despreocupadamente crescem, indicando a renovação. Então é um descuido, mas é um viver. Renovadas sementes em meio a essa velha vida. Então o jardineiro se levanta, vai à porta, abre, e olha toda essa relva. Em toda sua tristeza, vê alguns bichos rodando em volta de uma flora que não estava lá antes. Em todo o peso desses tempos, algo surpreendente surge, não da grama, mas do homem: um sorriso. 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Delírios Tropicais

Delírios tropicais
lírios astrais
doces sonhos de fim de tarde

O Sol se põe sem fazer alarde

Desenham as nuvens suas rubricas
assinaturas únicas

As túnicas e véus
caem em tentação

E o lírico pesar 
da noite que entra
arrebata
e, onírico, arrebenta

A Lua traz seu paladar

Roda o vento
e os eixos das bicicletas
ondas assimétricas
desenham esse mar
descortinando a paz