terça-feira, 4 de maio de 2010

Sessão das 10

Dá-se a descarga. Ou melhor, a água de alimento reciclado vai cano abaixo. E termina nossa história. Ou melhor, começa. Quero ir, que o aeroporto espera. E no apartamento caixa de sapato, dou risada do futuro trapo, e do presente esquálido.
Os sorrisos fabricados desfilam em minha janela, de doutores que vão almoçar e de hippies que ficam em pé nos portões.
Nessa cidade de São Jorge, ou de São Sebastião, delego um futuro que já atravesso, mas você é tão legal. E naturalmente me prendo aqui, é do apego humano. Se ligar na nega e no bolero, no coro que canta junto a você. E quem sabe até, numa sessão das dez, você me oferece uma pipoca e eu caso contigo.
Quero ir à sua essência, me embrenhar e me tornar um só contigo. Mesmo você sendo predadora, te caçarei como presa. Vou mergulhar, e mesmo que seu âmago seja tão azedo a ponto de queimar minha língua, preciso ir. Deixo na superfície uma bóia amarrada ao pé. Porque é mesmo pelo pé que teria que ser puxado, pra ter que levantar depois o corpo todo de novo.
Eu queria me mandar. Mas não necessariamente isso emplica em te abandonar, e sair daqui, talvez seja mesmo me mandar no sentido de mandar em mim.
Você me deixou. Me abandonou em teu próprio seio, desorientado pra te achar, já dentro de ti.
Mesmo assim, vou botar pra ferver. Ou mudo de lugar, ou mudo o lugar. Quero poder estar em alguma terra em que possa pensar que ali, todo mundo está feliz. E não preciso fazer isso saindo daqui, faço aqui mesmo.
Eu vou sentir saudade desse assanhamento todo da cidade grande, mas se precisar construo uma cidade maior ainda, mesmo que na minha cabeça. E aí, boto pra guerra, e acho graça.
Pra ficar muito tranquilo, sem precisar dizer adeus. Ter amor e liberdade, pra ter toda essa cidade dentro do meu coração.