Quando estou no mundo onírico, entrelaçado nas redes maravilhosas de Morfeu, não sei dizer se aquilo é realidade, aquela com a qual a gente está acostumado, ou não. Naquele mundo fantástico, o absurdo acontece, mas aos sentidos me parece que aquilo é tão real quanto qualquer outra coisa. Posso estar voando, organizando planos para derrotar os invasores alienígenas, qualquer coisa ... E tudo aparenta ser tão ou mais verossímil do que quando coloco meus pés descalços sobre o frio chão de madeira, e caminho em direção à água que lavará meu rosto.
E quando estou aqui, entre as paredes do cotidiano do mundo dito real, que talvez não seja mais real do que qualquer outra coisa fora da realidade, não posso me sentir como me sinto nos sonhos. As possibilidades se limitam, ficam quadradas, dentro de uma caixa. Em tudo há censura, há gravidade, há limitação corpórea. Sinto muitas vezes que isso aqui nem é tão real assim. Minha verdade particular esbarra nas outras e, do choque, sinto que estou acordado. E a maneira que encontro de me aproximar dos sonhos, mas tendo essa realidade como base, só é encontrada no torpor da embriaguez dos sentidos, seja qual for a causa desta. Um dia talvez eu acorde, tal qual Gregor Samsa na "Metamorfose", transformado em um gigante inseto. E, mesmo que seja a realidade dita real, ainda assim eu acharei que esse absurdo todo só pode ser um sonho.
Acordei um dia e senti o silêncio total. Senão de minha parte, não havia qualquer movimento ou ruido. Saí nas ruas e não encontrei viva alma. Nem animais, nem humanos. Depois de algum tempo, vi que estava completamente sozinho na Terra. Pude constatar isso ao sobrevoar cada metro quadrado do planeta, num bater de braços tão rápido quanto o som. Ao chegar no Japão, me entediei e resolvi voltar para casa. Chegando lá, preparei um chá de patas de galinha e deixei esquentar na geladeira. Joguei o chá sobre minha cabeça, e fui dormir. Sonhei então que eu, sentado confortavelmente em uma cadeira, escrevia um texto sobre os sonhos.