quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fugaz

Passa rápido feito um trovão, mas não é chuva não. É a roupa da liquidação, o último sermão, sem carregar qualquer cruz. É fugaz e é no pique que se passa por cima do caminho. Quando se quer escorregar em pedra ensaboada, é lá. No risco, no chão, em cima de corda bamba que cisma em não ser. Mantém a porta ali no lugar e mata a conversa num papo de bar. Se escalar rápido vai cair, se demorar não sei não. Melhor me jogar de pano no lugar seguro do chão.

(texto de 2007)

sábado, 11 de junho de 2011

Bicho homem

Abutres, porcos, ratos, burros. Nomes de animais que, entre outros, são usados de maneira pejorativa para classificar os seres humanos, tornando-se adjetivos. Coitados desses bichos. Levianamente, têm suas figuras rebaixadas às mesquinharias, maldades e outros defeitos que são próprios dos homens e mulheres, e não deles! Os abutres, que voam altivos, e planam nos ventos, que procuram carnes decompostas e ajudam a purificar o mundo, livrando-se dos restos mortais de animais que entregaram suas almas. Os porcos, que se alimentam de restos vegetais, evitando que sejam desperdiçados, que docilmente criam suas famílias, as porcas amamentando generosamente seus belos filhotes. Os ratos, ágeis e inteligentes, e que só transmitem doenças devido ao ambiente em que vivem (geralmente locais criados por seres humanos). O burro, animal forte e resistente, talvez até mais astuto do que aqueles que os ofendem gratuitamente. Pois então imagine que alguém utilize o seu nome como um termo pejorativo, que ofensa isso demonstraria para você. Por acaso não são os homens e mulheres, e não somente os abutres que rodeiam à procura de alguém que está se dando mal, para com sua desgraça se darem bem? Não é a humanidade que suja e polui sua própria morada (a Terra), o que é relegado somente à imagem do porco? Não são alguns seres humanos que transmitem doenças a outrem (como os portugueses transmitiram a índios brasileiros), ao invés de serem somente os ratos? Não é esse ser dito pensante que cria problemas que não pode resolver, que insiste em fazer coisas que não são prudentes, do que é acusado o pobre burro? O homem não é abutre, nem porco, nem rato, nem burro. Infelizmente.