Entrando pelos arbustos que estão ao lado daquela casa marrom, na rua 13, entra-se no espaço proibido. Os vizinhos, ao verem os jovens chegando, recriminam, receosos, a entrada naquele lugar secreto, cochichando entre portões a atitude contestadora, estúpida, da exploração do que não deve ser contemplado. Mas o sangue, que corre curioso por entre as inexploradas veias da inquietude da juventude, inflama o desejo do inexplorado, do marginal, daquilo que parece a liberdade. Lá, onde a luz explode em infinitos feixes, fragmentos de cores excitam a sensibilidade e a imaginação. Onde se brinca com a plasticidade do sensorial, expandindo fronteiras para até onde seus limites o permitem. Lá, onde a máquina burocrata, que a todos engole, não entra.
No maravilhoso jardim, onírica permanência no estado desperto, o grupo aperta os cintos para ir além dos painéis luminosos que os hipnotizam, penetrando sua própria natureza, usando-os a seu bel prazer. O mergulho na consciência sensorial é profundo, mas ela ainda é apenas o raso. A interiorização se completa em estágios mais avançados, para além das ondas que ainda podem ser usadas para a criação da consensual dominação do aparato do ser.
Mergulho profundo... o mar a dissolver.
De onde vem essas estacas metálicas a perfurar o macio solo, a profanar o bendito pródigo, a desfazer o cimento sólido de nossas massas cinzentas? O barulho de plástico borbulhante derretendo alcança as margens do concreto, incitando a insegurança em nossas almas tão frescas, prontas para serem embaladas. Apesar deles, conseguimos alcançar a porta de onde vinha aquele suave som das estrelas a piscar. Um passo adentro e já não há mais depois. O vermelho fluido das vias ganha corpo em avenidas onde caminhamos por sobre a água. Corremos, então, e o olhar ultrapassa a si mesmo, os pontos de luz agora virando feixes contínuos que rapidamente se contraem e se expandem perante um perplexo perceber. Comemos as galáxias no café da manhã, e regurgitamos todo o universo, no jantar do dia anterior. Irreprimível manifestação em passeio pela coletividade subjetiva. Transubstanciação. Explosão. Depois, silêncio por algum tempo.
Rápidas braçadas... de volta à superfície.
Do lado de cá do espelho, uma intensa chuva cai e atinge os ossos de nossas ruas desgastadas. Alertas, os mergulhadores saem da zona proibida, vendo tudo com os olhos de quem esteve do outro lado. Passo a passo, os adormecidos se entrecruzam, enquanto os despertos se entreolham, indagando mutuamente: o quê fazer? Desligar. Desconectar todos os fios da doença generalizada espalhada pelos conectores das poluídas entidades. Quando começar: talvez agora mesmo. Hoje, a cidade não vai dormir tão cedo.
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