Engraçado como as impressões que me causa essa grama toda alta são tão diferentes, e até contraditórias. O fato dela estar como está remete a uma sensação de abandono, de um não se preocupar, de um desleixo. Essas coisas levam a pensar que o responsável pelo manejo do jardim também está possivelmente abandonado, desleixado, sem ninguém para se preocupar com ele. Mas vai alta, a grama. De um verde intenso, que murcha ligeiramente com o sol ardente, mas se levanta, soberana, à chuva que cai nesses dias. É uma pujança de vida, aparecem tantas espécies de insetos e pequenas plantas, que despreocupadamente crescem, indicando a renovação. Então é um descuido, mas é um viver. Renovadas sementes em meio a essa velha vida. Então o jardineiro se levanta, vai à porta, abre, e olha toda essa relva. Em toda sua tristeza, vê alguns bichos rodando em volta de uma flora que não estava lá antes. Em todo o peso desses tempos, algo surpreendente surge, não da grama, mas do homem: um sorriso.
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