domingo, 10 de março de 2013
sexta-feira, 1 de março de 2013
Para Bukowski
Ontem na praça morreu um cara. Um tiro. Naquele lugar onde as pessoas morrem, pouco a pouco. O álcool reina ali, algumas outras drogas também. Para escapar, desligar. Minha alma está cinza como o concreto que arde debaixo desse sol. A bebida é a solução dos sofredores, ao que parece. Um caminho mais fácil e agradável, com resultados mais eficazes a curto prazo, do que os esportes ou a religião. Um copo, dois, estou mais falante. Fica mais agradável, suportável, estar vivo. Outros tantos copos, e já nada mais importa. Sou um belo e imaculado semblante de Buda, fedendo a cigarros e ao perfume de algumas das pessoas que abracei. Sou um patético animal errante, pretenso sábio por uma noite. Apressado da próxima dose de prazer, seja ela um outro gole, talvez de uma bebida mais forte, ou quem sabe um beijo com hálito de cerveja. Uma canção na minha cabeça, ou uma vaga melodia: elas sempre estão lá. Uma para cada situação. Peço um cigarro para alguém, que fala e demora mais do que eu gostaria para me dar o meu pequeno momento de abstração enfumaçado. Mas os tragos e os goles já não são suficientes. Tropeçando nas palavras, e saltando abismos no pensamento. É um jogo perigoso. Se bem que dá pra escapar um pouco do cotidiano e do vazio, essas coisas entrelaçadas. Parece mais divertido também do que esse passar horas em frente a um computador, mil estímulos, pequenas doses de alegria, ou revolta, e nada de plenitude. Sinto que meu cinismo é falso, e meu misticismo é de fachada. Não sou ninguém. Dou uma risada que tem um pouco de triste ao final da leitura de cada frase de autoajuda. O corpo marcado, o coração dilacerado, a mente obsessiva. É uma coisa muito pesada e solitária essa de ser uma pessoa. A comunicação sempre é falha, não há entendimento pleno do que um quer dizer ao outro, e ficamos sozinhos. Bem, pelo menos eu fico. Não sei dos outros. Certamente tem gente sofrendo por aí, mas é difícil admitir. Eu não tenho muito como esconder, é evidente, literalmente sai na pele. A vida é curta, e bate um desespero quando não se sabe o que fazer. A gente vai fazendo o que dá, qualquer coisa. Com gente cagando na nossa cabeça, tudo em volta enlouquecendo. Vamos parando de nos impressionar. Sinto falta da ingenuidade. Ver as coisas não é muito legal. Na frente do meu prédio dá pra ver uma sacada onde, quase todo dia, dois moleques ficam jogando bola, e se divertindo bastante. Tudo o que eles precisam é isso: uma bola. E gritam, fazem barulho, visivelmente aproveitando. Intocados pelos males do mundo. Por toda essa dor. Era um pouco isso o que eu queria... Aí concluo que talvez seja por isso mesmo que a gente beba e fuja tanto: pra voltar a ser criança.
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