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Domingo, 14 de Outubro de 2012
Isso
tudo parece uma grande loucura. Entre ruas, ruídos, redes sociais,
momentos banais, copos de água, conversas vazias, noites repletas de
dor, dias bonitos, céus azuis, ligações telefônicas, expectativas,
lembranças. E muito mais. Tudo cheira a decadência, e a renovação. Tudo
sai do lugar, e para de fazer sentido. Tudo grita, cada segundo grita
por sua morte, para que outro possa substituí-lo.
Somos tocados
como gado para dentro de galpões escuros, e não sabemos o que há ali
dentro, o que nos espera. Somos atingidos por raios de luz em nossas
faces, que nos ofuscam a vista. Somos lavados por fluxos contínuos,
jorros de prazer extenuante. Somos cercados por infinitos estímulos,
diferentes atividades simultâneas que nos fazem esquecer umas das
outras, e por fim, esquecemos tudo. Somos o que somos, e somos tudo e nada.
Eu gosto de ver, à beira de alguma estrada, pela janela do carro, casas
abandonadas em meio aos pastos. A tinta descascada, os tijolos à
mostra, os pedaços faltando. Fico imaginando as teias de aranhas nos
cantos entre as paredes e o teto, os bichos que se refugiam ali, usando
como abrigo o que já abrigou, quem sabe, uma família, uma pessoa
solitária, um casal apaixonado. Um prédio obsoleto, que já não tem mais
sentido agora, mas que persiste, impõe sua presença perante o futuro,
incomodando alguns, e despertando os sonhos de outros, como eu. E,
talvez, esse prédio ainda fique por muito tempo ali, despertando a
curiosidade de alguma criança que olha pela janela, sempre fascinado com
o mistério que uma simples construção pode evocar, com as infinitas
possibilidades do destino de qualquer coisa nesse mundo. E, talvez
amanhã mesmo, essa estrutura, carregada de toda a carga daquilo que ali
foi vivido, seja demolida, e em seu lugar seja construída outra coisa,
nova, dentro de onde pessoas sentirão e viverão momentos. E com o passar
do tempo, talvez esse novo prédio seja mais uma velha construção em
ruínas que alguém vai simplesmente ignorar, ou imaginar todo um mundo
vendo aquilo. E o ciclo continua.
Estou lento, e uma parte de mim
tem pressa. Porque as coisas têm pressa, e a vida nos pede, com
urgência, para que a vivamos. A cada murmúrio do relógio analógico eu
morro um pouco. Mas vêm os sinais do amanhã, e o amanhã é sempre uma
possibilidade de vida. Todo esse corpo que escorre em água pelo ralo
precede o instante da ebulição. E o vapor se espalha, se condensa, e
escorre em tantas tormentas que mil mares não podem comportar.
A
rotina parece um moinho de vento em um lugar em que o ar sopra constante
e suavemente. Pequenos redemoinhos à altura do chão nem podem ser
sentidos, não fazem diferença alguma. Sentimos o moroso barulho de suas
hélices em monótona rotação. E, aqui dentro, estamos nós: à espera do
furacão.
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