sábado, 1 de junho de 2013

Mais uma noite

A música está bem alta, meu cérebro nem sente, meu corpo sim. Meus cotovelos, eles estão encostados no balcão. Sempre estão. Se acostumaram com o duro e frio carinho da beira do bar. Por vezes, um deles fica sozinho, enquanto o outro vai dar uma olhada na fauna do recinto. Uma banda. Não fui com a cara do baixista, mas ele toca bem. Dou uma pequena risada interior por achar aquilo ali um tanto patético. Duas ou três pessoas simplesmente ficam assistindo ao show inteiro, cantando, numa espécie de submissão. Peço outra cerveja, veio bem gelada, minha boca se enche de saliva. Vejo uma mulher ruiva, pele muito branca, tatuagens pelo braço, parece bem quente, e minha boca se enche de saliva. Fico imaginando o que poderia estar fazendo com ela, num lugar bem longe daquela merda toda. Me recolho novamente. Bebida no copo, copo na boca, gota escorre pelo canto, limpo com o reverso da mão. O som, pesado e caótico, começa a me fazer bem, acho. De certa maneira, me identifico, me sinto familiarizado em meio àquele universo ruidoso. O ambiente se conforma ao meu espírito confuso. Preciso ir ao banheiro, vou, mijo. Lavo as mãos e jogo água na cara. Um pouco de náusea. Não comi direito hoje, venho bebendo há dias, o som alto, o escuro, as vozes que não param de falar e falar. Preciso sair daqui, mas antes tentarei vomitar. Tento, não consigo, e infelizmente não suporto a ideia de colocar um dedo na garganta. Saio tonto, e aviso um amigo que irei embora, pago o que devo, e vou apressadamente porta afora. Ando até o ponto de ônibus, ele demora mais do que eu gostaria, e vou pedindo carona - ninguém para - e cantarolando no meio tempo. Finalmente chega. Converso com o motorista, é simpático. Ele para em um ponto para que um cara que está no transporte com a gente compre algumas coisas, e acende um cigarro. Desço do ônibus, e peço um trago, ele me dá alguns. Voltamos, andamos mais um pouco, salto no ponto errado. Ando um pouco mais do que poderia, do que deveria, por ruas desertas na madrugada. Elas ficam tão bonitas na calada da noite, têm uma certa maturidade, uma misteriosa dignidade. Chego em casa, não me lembro bem o que faço. O telefone toca, e eu acordo: já é dia.       

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