Os solitários não são, necessariamente, infelizes. Muitas vezes, inclusive, ocorre justamente o contrário. Têm um vasto mundo à sua disposição. Se inundam com riquezas de suas próprias hortas, e com as colheitas feitas por outras almas, disponíveis em forma de livros, discos, pinturas, ideias. Têm, frequentemente, alguma habilidade como o domínio de um instrumento musical, ou de técnicas artísticas das mais variadas, para que possam, mais do que passar o tempo, dar vazão a pensamentos e sentimentos, entrar em estado meditativo, disciplinar corpo e mente. Não deixam, claro, de se relacionar com pessoas, mas somente na medida em que o universo delas não entre em conflito com o seu a ponto de arriscar anulá-lo. Gostam bastante, inclusive, de conversar, mas preferem papos a dois, onde podem explorar o universo de seu interlocutor, com a clareza e a sinceridade dificilmente obtidas em um encontro social a três ou mais. Podem apreciar, em maior ou menor grau, o contato contemplativo com a natureza - praias, florestas, mirantes - onde sentem alívio, êxtase, e maior abertura mental/espiritual para expandir a capacidade de ver as coisas como elas são. Suas ideias e criações inundam o mundo, pegam e arrebatam os espíritos mais sensíveis, alteram percepções, abrem janelas. Portanto, caso veja uma pessoa sozinha em um parque, possivelmente com um caderno ou livro em mãos, com o olhar perdido, aparentemente apático e desocupado, não se engane: pense que esse indivíduo pode ser um desses seres, a desconstruir e reinventar todo um universo.
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